quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Quase virar comida de peixe...e outras aventuras

Oi, todos!

Finalmente, vim contar o final da minha saga pelas Irlandas. Se o passeio por Dublin e Belfast foi lindo e doce, a volta foi muito, mas muito amarga! Pelo título já deu pra ver que é novela mexicana, né?

Ainda era o dia do meu aniversário, e eu queria encerrar tudo perfeitamente. Fiz meu check-in online e imprimi o cartão de embarque quando ainda estava em Londres - e como eu sabia que entre Dublin e Reino Unido não precisa de checagem de passaporte, fui direto pro portão de embarque.

Depois de tanto tempo viajando pra lá e pra cá, tem umas coisas que não têm mais a mesma importância que antes. É uma mudança de "estratégia", na verdade. No início, eu lembro que sempre que chegava no portão de embarque, corria pra ser uma das primeiras (quando não a primeira!) a entrar no avião. Pra não ter que enfrentar fila e também pra começar a descansar mais rápido - sim, eu sou do tipo que dorme que nem um bebê em qualquer voo, e a qualquer momento do voo. Lembro que quando voltei da Europa pela primeira vez, em 2008, minha irmã não me perdoou porque eu dormi antes da decolagem e não segurei a mão dela.

Mas ultimamente eu tenho estado muito mais desencanada, e minha estratégia é a oposta: sendo perto do portão de embarque, e quando a fila acabou e a última pessoa está saindo, eu me apresento. Lá estava eu, sorridente e serelepe, aproveitando as primeiras horas dos meus 23 anos, quando o comissário olhou pro meu cartão de embarque e disse que eu não poderia entrar no avião.  Fiquei verde, amarela, azul e branco, porque eu nunca tinha perdido um voo na minha vida. Estava me recusando a acreditar. Pior ainda foi o motivo: a Ryanair, companhia com a qual eu viajaria pela primeira vez, exige que cidadãos não britânicos ou europeus se apresentem ao balcão de check-in mesmo que já tenham feito pela internet. Ninguém vai me convencer de que isso faça algum sentido, mas o fato é que a informação estava sim no cartão de embarque, e eu realmente não prestei atenção. E pensar que naquele mesmo dia eu estava me orgulhando mentalmente por nunca, em 26 países, ter perdido um voo... foi um tapa na cara!

O comissário teve a bondade de me dizer que eu poderia remarcar o voo para a manhã seguinte (o primeiro sairia por volta das 8 da manhã) se eu fosse até o balcão... que fecharia... em. quinze. minutos. Quinze minutos!!! E você não tem noção da enormidade daquele aeroporto! Fora que, sendo a Ryanair a companhia mais barata que existe, os portões de embarque deles são sempre no bairro onde o vento faz a curva, duas ruas depois de onde Judas perdeu as botas. Corri que nem uma doida! É claro que todas as lojas já estavam ou fechando ou fechadas, e havia uns dois gatos pingados no aeroporto. Chegar até um portão de embarque geralmente é fácil, mas sair é uma tortura. Até porque é um caminho "errado". Em situações normais, você não desembarca pelo mesmo lugar onde entrou, mas eu não tinha opção.

Entrei e saí por todos os corredores que tinham o sinal de saída. Dei voltas pelos mesmo lugares incontáveis vezes, dei de cara com corredores sem saída incontáveis vezes. Depois de perguntar a umas duas pessoas como sair e receber respostas do tipo "vira pra direita e depois pra esquerda" e quebrar a cara, eu já estava desesperançosa. Até que resolvi tentar a sorte com um tiozinho da limpeza que não parava de olhar pra mim - provavelmente por causa da minha cara de desespero e minha respiração ofegante que dava pra ouvir do outro lado do mundo. Ele foi me apontando o caminho e finalmente, quase quarenta e cinco minutos (isso, 45!) depois, eu estava no balcão da Ryanair. Que, obviamente, estava fechado.

Resolvi que eu não me estressaria. Era o meu aniversário! Tudo que eu precisava era parar pra pensar e analisar minhas opções. E aqui fica meu registro de admiração eterna pelos viajantes do tempo pré-internet. Aplausos pra eles! O que seria de mim se não fosse o Wi-Fi de graça do aeroporto, me permitindo ver quais eram os próximos voos? Cogitei milhões de possibilidades, e o que me pareceu mais razoável foi voltar para Belfast. Explico: como Belfast fica na Irlanda do Norte, que é parte do Reino Unido, seria mais fácil usar meu cartão e o celular. Estando em Dublin, que já é União Europeia, eu teria que transferir dinheiro entre minhas próprias contas (e, logo, pagar taxas altas) e meu celular continuaria em roaming. Decidido: voltar para a terra de Beth!

Peguei um ônibus que saía do aeroporto mesmo. Era quase meia noite do domingo - horário em que eu deveria estar chegando em casa! Depois de um pouco mais de duas horas, lá estava eu de volta. No momento em que desci do ônibus no meio da rua (porque a estação estava fechada) e dei de cara com uma rua vazia, já pude imaginar duas grandes orelhas peludas crescendo pela minha cabeça. Burra! Burra, burra, burra! Como eu não pensei que, às duas da manhã, esse seria o cenário que encontraria? Chegando na avenida principal, deu uma piorada: a rua tinha um pouco mais de movimento, mas achar uma pessoa sóbria era praticamente impossível. Os bêbados disputavam os taxis, e tudo que eu queria era não ser notada.

A estação abriu um pouco depois para a chegada do ônibus que me levaria até o aeroporto de Belfast City - de onde um voo para Londres sairia às 6:50. Na hora marcada, chegou um ônibus com o letreiro luminoso Dublin via Airport. Beleza. Mesmo assustada com o preço da passagem, entrei nele! A essa altura eu tinha me preparado psicologicamente para pagar o que fosse preciso pra chegar em casa! Já estava sentada quando olhei pela janela e vi um ônibus com o nome Airport express. O reconheci como o mesmo que peguei quando cheguei no aeroporto de Belfast, vindo de Londres. Daí veio um estalo. Peguei minha mochila e conformei com o motorista do ônibus onde eu estava:

Eu: Este é para Dublin via aeroporto, né?
Motorista: É.
Eu: Aeroporto Belfast City, certo?
Motorista: Não. Aeroporto de Dublin.

Desculpe mãe, desculpe pai, mas nessa hora eu soltei um sonoro SHIT! Perguntei pro motorista se tinha alguma chance dele me devolver a fortuna que paguei... e ele disse que não. Quase que sai outra palavra feia! Corri pro ônibus certo, tentando me acalmar, e fui logo perguntando pro motorista.

Eu: Este vai para o aeroporto, né?
Motorista: É.
Eu: Aeroporto Belfast City, certo?
Motorista: Não. Aeroporto Belfast International.
Eu: Como assim? E o Belfast City?
Motorista: Está fechado.

Adivinhem que palavrinha mágica saiu da minha boca novamente? Aquela mesmo! Foi inevitável! Percebendo minha cara de sem chão, o motorista do primeiro ônibus veio até mim pra devolver meu dinheiro. Eu devia estar mesmo parecendo um cachorro pidão! Os ônibus partiram e... tcharam... a estação fechou mais uma vez! Isso significa que eu teria que esperar na rua. Ah, já falei que meu celular tinha 10% de bateria, eu estava de vestido, morrendo de fome e morrendo de frio? Pois é :) Tudo perfeito!

Na rua, me esforcei pra me concentrar num plano B. Pensei em voltar pra um albergue, descansar e resolver isso no dia seguinte. Cheguei a ligar pra um e tentar pegar um taxi, mas os amiguinhos bêbados dominavam todos, e os taxis àquela hora só podiam ser pegos com reserva. Pensa, pensa, pensa! Um beijo para minha memória fotográfica que se lembrou de ter visto um voo saindo do Belfast International às 7 da manhã. Não querendo gastar a bateria do celular rápido, entrei rapidinho na internet só pra confirmar. Depois de mais 1 horas de espera - e a essa altura já eram 3 da manhã - chegou o ônibus de novo. O motorista me recebeu com uma risadinha: "Você por aqui de novo?". Não fiquei nem chateada, porque era tão trágico que estava realmente cômico.

Chegando no aeroporto, tratei de encontrar uma tomada, sentei no chão e comprei minha nova passagem pelo celular. Com uma dor no coração, diga-se de passagem. Ela custou quatro - repita comigo: four, vier, أربعة, 四, QUATRO vezes mais do que o preço que eu tinha pago originalmente. Antes de viajar, tinha feito umas contas e tava super feliz por ter conseguido suar a camisa e guardar a punho cerrado 130 libras para a próxima viagem. Num clique, foi tudo embora. Por dentro, eu dizia pra mim mesma, "chegar em casa vale qualquer dinheiro!".

Algumas horas depois o check-in abriu, e é claro que eu fui pro balcão dessa vez. Dei uns pulinhos internos de alegria ao ver que o agente da Easyjet tinha me colocado em um assento na janela. "Estou com sorte", eu pensei. Me deu um alívio enorme quando passei pelo portão de embarque. Meu assento estava numa saída de emergência. Maravilha, mais espaço para as pernas! A essa altura, há quase 24 horas sem dormir, desmaiei de sono no segundo em que entrei no avião.

Não me lembro de nada além de começar a sentir o avião pegando velocidade na pista, prestes a decolar. De repente, uma freada brusca, e os burbirinhos de conversa foram substituídos por alguns gritos e barulhos de susto. Como meu sono era maior que tudo, voltei a dormir. Senti o avião andando mais um pouquinho, em baixa velocidade, e logo depois fui acordada pela voz do piloto pedindo desculpas e dizendo que freou porque havia notado algo diferente com seu computador e que os engenheiros logo estariam ali pra resolver o problema.

Apaguei de novo, só acordando com um novo anúncio do piloto, que deve ter vindo uns 15 minutos depois. Ele dizia que o voo realmente teria que ser cancelado e que todos deveriam retornar ao portão de embarque. Mais informações seriam dadas lá dentro. Fiquei mais chateada por ter que acordar do que pelo cancelamento do voo. Eu estava um zumbi! Pouco depois de entrarmos no aeroporto novamente, um funcionário da Easyjet anunciou que havia sido encontrado um problema no motor que impediria o avião de funcionar corretamente, e que ele estava - nas palavras dele - inserviçável. O que meu cérebro processou foi: "o avião ia cair, você ia morrer". Porque de fato, era isso que ele queria dizer.

Esta seria a primeira vez em que eu ia me sentar na saída de emergência. Eu fiquei imaginando o caos começando a acontecer e eu tendo que fazer alguma coisa além de dormir, morrer do coração ou gritar junto com todo mundo. Depois de alguns segundos de choque, só restou uma gratidão enorme a Deus - principalmente pela sabedoria do piloto!

Foram mais quatro horas de espera e muita enrolação até finalmente embarcarmos de novo - em outro avião, claro! A primeira coisa que fiz? Pedir pra comissária de bordo pra eu sentar em outro lugar, que não fosse saída de emergência. Acabei ficando com uma fileira só pra mim! Melhor assim, pelo menos não corria o risco de deitar ou babar em ninguém. Mas a essa altura do campeonato eu estava tão tensa que não consegui dormir de verdade... só pensava em desembarcar logo na minha Londres!

Chegando no aeroporto de Gatwick, o ônibus até o centro da cidade já estava lá esperando. O trajeto durou mais de uma hora, mas a tensão novamente não me deixou dormir. Ao chegar na estação de metrô, estava tudo simplesmente lo-ta-do. Só depois descobri que era por causa do carnaval que estava acontecendo em Notting Hill. Preferi não pegar o metrô. Acho que meu humor maravilhoso seria mais ameaçador à multidão do que ela a mim. Fora isso, meu cartão de passagem não estava carregado e a fila das maquininhas estava dando a volta em Saturno. Não tive opção além de encarar mais uma hora de ônibus.

Finalmente cheguei em casa perto das 18h, há quase 34 horas sem dormir. Se me pedissem pra somar dois com dois, eu provavelmente não saberia. Com um olho aberto e outro fechado, tomei um banho, e logo em seguida caí na cama! Acordei dezessete horas depois, com a sensação de que um trem tinha passado pelas minhas costas.

Passei a segunda-feira completamente zonza, pra de noite ser surpreendida com... BOLOOOO!!! Sim, meus amigos lindos do apartamento fizeram um bolo de chocolate ma-ra-vi-lho-so e cantaram parabéns pra mim!
A foto ta péssima, mas o bolo tava uma delícia!
Arrasou, Vanessa amigonaaa!
E assim eu comecei meus 23 anos. Que os próximos dias também sejam cheios de aventuras... mas de categoria mais leve, por favor!

Beijo, gente! Tô vivaaaaaaa!

6 comentários:

  1. Meee, fiquei exausta só de ler! Mas que bom que no final deu certo (aka você dormiu 17h seguidas e acordou com bolo! mais certo que isso só dois disso!) :D
    E feliz aniversário atrasado! :P

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    1. Nossa, foi realmente tenso! Mas o bolo e as 17 horas compensaram tudo :D hehehe
      Beijo!

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  2. Bem tranquila essa viagem, hein? haha
    E parabéns!

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  3. Por que não pernoitar no aeroporto?
    Feliz Aniversário!

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    1. Oi! Preferi não dormir no aeroporto porque, como Dublin não é Reino Unido, eu teria dificuldades pra usar meu cartão. Ia precisar transferir dinheiro entre minhas contas pra usar o DilmaCard na função internacional :P
      E brigada :)

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