sábado, 27 de julho de 2013

Holanda sem tulipas, com bicicleta

Opa!

Depois de uma semana de muito trabalho, aqui estou eu de novo pra finalmente contar como foi o passeio pela última cidade do trio Benelux: Amsterdam. Bora lá.

Se Luxemburgo me fazia pensar no meu irmão mais novo, Filipe, umas 5, 10, 200 vezes por dia, quem não saiu da minha cabeça em Amsterdam foi minha irmã, Mariana. Ela estava ao meu lado quando fiz minha primeira viagem internacional, em 2008. Fomos para a Suíça, e de lá íamos visitar França e Holanda. Eu com 17, ela com 19 anos. O fato é que fizemos amizade com uns garotos americanos que estavam participando do mesmo programa que nós, e eles nos convenceram a ir para Roma com eles em vez de Amsterdam. Pra gente tava ótimo, mas eu lembro do medinho que deu quando fomos pedir permissão a papai e mamãe! E qual não foi nossa surpresa quando ganhamos um "sim"!


Amsterdam ficou pendente, mas Roma foi inesquecível - e mais ainda foi a atitude dos meus pais. A confiança que eles depositaram na gente naquela ocasião me inspira até hoje. Pais sabem o nível de maturidade que os filhos têm, mas às vezes seus medos não lhes permitem dizer sim. Não sei pra que pai ou mãe eu to escrevendo isso agora, mas o fato é que já recebi algumas mensagens de futuros intercambistas falando sobre como está difícil para seus pais encararem a partida dos filhos. Meu pai e minha mãe são mestres na arte de deixar voar com o ninho sempre aberto para o retorno. Eles sabem o que fizeram e a educação que nos deram. Deve ser difícil pra eles muitas vezes, mas o amor e a vontade que a gente cresça e viva as próprias experiências é maior que o egoísmo que muitos pais mascaram como "proteção". Quando meus pais demonstram confiar em mim, eu não tenho vontade de exceder limites ou sair por aí fazendo loucuras que eles nunca descobrirão. Pelo contrário. Eu quero honrá-los. Por isso, pai e mãe, vocês são os melhores do mundo. Seu amor e apoio não têm preço e eu desejo que tudo o que eu fizer seja motivo de orgulho e felicidade pra vocês.

Agora sim, fim da psicologia familiar. Vamos falar de Amsterdam.

Pra variar, cheguei na Holanda sem ter ideia do que iria fazer. Eu só sabia que era bonito, que havia canais e que em algum ponto eu ia querer andar de bicicleta. Cada vez mais percebo que estar no lugar é mais importante do que fazer ou ver exatamente o que está nos roteiros tradicionais. Assim como nos dias em Bruxelas e Luxemburgo, o sol estava com tudo em Amsterdam! Cheguei por volta das quatro da tarde, e comprei um ticket de transporte válido por 48h - o tempo que eu ficaria lá. Peguei alguns ônibus pra lugar nenhum só pra sentir a dinâmica da cidade. E acabei vendo que as coisas eram bem menores do que eu imaginava! Tava achando tudo uma fofura...


Com as finanças mais apertadas do que nunca, parei em um Burger King que anunciava uma promoção de cheeseburger, batata frita e refrigerante por 3 euros. Veja só como as coisas estavam apertadas. Eu nunca trairia o Mc Donald's, mas pobreza é pobreza, e a promoção de 3 euros era tentadora demais. Bom, a questão é que há 10 anos eu resolvi parar de tomar refrigerante, então, como sempre faço, pedi ao atendente pra trocar o refri por um suco. Ele disse que eu teria que pagar separadamente, e tal, e eu desisti. Ia ficar na água mesmo. Pra minha surpresa, quando ele colocou o sanduíche e a batata na bandeja, ele também colocou do lado uma garrafinha de suco de laranja. Eu lembrei a ele que não tinha pago por aquilo, e ele simplesmente sorriu, deu uma piscada e fez aquele sinal de silêncio. Ah, como eu adoro encontrar gente linda no meu caminho!

Enfim. Levei um bom tempo só batendo perna em lugar nenhum mesmo. Eu tava feliz só de estar em Amsterdam! Resolvi pegar uma balsa e ir até o outro lado da cidade pra conhecer o Eye, que é o Instituto de Cinema de lá. Uma pena mesmo ter chegado menos de 30 minutos antes de fechar, porque o lugar é incrível! Lindo por fora e cheio de coisas legais por dentro.

Pintura humana: nossos movimentos dão cor à tela
Uma das cabines de cinema do Eye, com jogos, pequenos documentários
e filmes inteiros pra assistir. De graça.
Brincando de filme
Depois do Eye, dei uma passada no Vondelpark, e finalmente fui encontrar minha amiga Isis. Nos conhecemos no ano passado, como blogueiras pelas Olimpíadas aqui em Londres, e ela ofereceu sua casa em Amsterdam pra mim. Foi ótimo colocar a conversa em dia e ter um teto amigável por lá :)


Quando fui dormir, percebi que eu peguei leve um pouco demais no primeiro dia. Eram só dois, e um já tinha ido embora! A sexta-feira, então, teria que ser pra valer! Decidi que não iria a nenhum museu. O dia estava tão lindo e havia tanta coisa pra ver que seria um pecado ficar dentro de um prédio, qualquer que fosse ele. Então está decidido: vou voltar em Amsterdam pra ver de perto as obras de Van Gogh e a casa de Anne Frank, no mínimo!

Bom, a primeira coisa que fiz foi me juntar a um Free Walking Tour - como o que fiz na Eslováquia e na Hungria. O passeio durou cerca de 3 horas, e andamos por muitos lugares importantes de Amsterdam: a praça Dam, a Velha e Nova igrejas, o distrito de Jordan, entre outros. Mas com certeza o mais chocante foi andar pelo Red Light District. Mulheres em vitrines, se assumindo como produtos. Deu um nó na garganta, pra ser bem sincera. Nossa guia falou do quanto os direitos das prostitutas são protegidos e como a profissão é regulamentada. Ainda assim, um nó na garganta. É claro que dessa parte do passeio eu não tenho fotos, mas aí vão um monte de belezas holandesas que vi no caminho:

Essa faixinha vermelha é a menor casa da cidade!

Terminada a andança, me encontrei com uma amiga brasileira também do Ciência sem Fronteiras, que estuda na mesma universidade que eu, a Manu. Conversando no apartamento, descobrimos que tínhamos comprado passagens pra Amsterdam pro mesmo período, e então combinamos de nos encontrarmos por lá. Primeira parada: um moinho! A guia tinha dito que a área era super legal e tinha boas opções de restaurantes. Que nada! Desertíssimo. Mas quem está reclamando? Vimos um moinho, afinal!


De lá, fomos para a Museumplein, que é onde tudo acontece para turistas. Uma área bem movimentada mesmo, onde ficam, entre outras coisas o Rijksmuseum, o Museu de Van Gogh e a famosa placa de I amsterdam. Tinha mais turistas do que formigas naquele chão! E eu explorei a coitada da Manu pedindo mil fotos, até conseguir um em que a placa fosse de fato visível :D


E então chegou a hora de fazer o que não se podia mais adiar: andar de bicicleta. Se tem algo que é definitivamente mais importante do que o ser humano em Amsterdam, é esse tal veículo de duas rodas. Você e eu podemos achar um charme pedalar pelos canais e ruas fofíssimas, mas é o meio de transporte deles. E se motoristas podem ser bem hostis e impacientes, os ciclistas holandeses não ficam nem um pouco atrás! É muito sábio não colocar buzinas em bicicletas, porque senão a linda cidade que é Amsterdam se transformaria em um caos!

As ciclovias estão de fato em todos os lugares, e idade ou condição social não contam nem um pouquinho. A bicicleta é mesmo um transporte democrático. Do cara bonitão de terno à vovozinha que foi ali comprar pão, todo mundo pedala. E eu adorei ser parte dessa massa, mesmo que só por um pouquinho...


Terminando o passeio, Manu e eu voltamos à Museumplein para um lanche. Colocamos a conversa em dia enquanto aliviávamos o calor mergulhando nossos pés no laguinho artificial que daqui a cinco ou seis meses se transformará em uma pista de patinação. O fato da Europa ter quatro estações tão bem definidas me encanta demais!


Nos despedimos, e eu resolvi ir ao outro moinho de Amsterdam. Vai que eu tinha ido no errado, e lá de fato seria um lugar movimentado e legal? Que nada, mais uma vez! Andei que nem uma condenada e lá estava ele, solitário no meio do nada. Tudo bem. Fiquei mesmo feliz por ter visto os dois moinhos da cidade.


O segundo e último dia foi embora, e na manhã seguinte eu levantei cedinho pra voar pra casa. O avião pousou em Londres e eu sorri por dentro, lembrando a mim mesma do objetivo que alcancei: ter no currículo o número de países equivalente à minha idade. Não achei que faria isso tão cedo, mas aconteceu. Aos 22 anos, estive em 22 países. Cada um é especial e único, e de todos eles eu tenho uma história pra contar! Lá vai a listinha (que está prestes a aumentar, aliás!)

Suíça
França
Itália
Vaticano
Alemanha
Argentina
Uruguai
Quênia
África do Sul
Inglaterra
Portugal
República Tcheca
Áustria
Eslováquia
Hungria
Romênia
Bulgária
Turquia
País de Gales
Bélgica
Luxemburgo
Holanda

A Holanda vai ser lembrada de forma especial por ter sido onde eu alcancei a meta. E eu estou animadíssima pra conhecer os outros pelo menos 173... nem que eu tenha que viver 173 anos pra isso!

Beijo pra vocês!

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Luxemburgo: meu passeio arruinado

Continuando a saga por Benelux, minha próxima parada depois de Bruxelas foi Luxemburgo, capital de Luxemburgo (sim, a cidade e o país têm o mesmo nome). Apertadinho entre Bélgica, Alemanha e França, Luxemburgo é o sexto menor país da Europa. E como já mencionei, conhecê-lo foi ideia do meu irmão. E olha só como Deus orquestra as coisas de maneira tão legal: há pouco mais de um mês, eu tava num encontro com algumas meninas da Hillsong e comecei a conversar com uma que eu não conhecia. Ela perguntou como estava sendo a vida em Londres e se eu tava conseguindo viajar bastante. Falei do quanto tenho adorado tudo e contei também do mochilão. Em seguida ela perguntou quais os planos para a próxima viagem, e eu disse "Bélgica, Holanda e Luxemburgo". Isy arregalou o lindo par de olhos azuis dela e me disse que ela era de Luxemburgo e que nunca tinha ouvido ninguém dizer que queria ir pra lá. Continuando a conversa, descobrimos que eu tava planejando a viagem justamente pra época em que ela estaria no país, passando férias com a família. Não paramos de nos falar desde então, e com certeza a melhor parte de Luxemburgo foi ter passado tempo com ela!

Na terça-feira, depois de pouco mais de 3 horas em um trem lotado de umas dezessete mil quatrocentas e cinquenta caravanas de crianças escoteiras (sofri demais e repensei minha ideia de ter 5 filhos), desci na estação onde Isy me encontrou. Almocei com ela e seus irmãos e ja tava adorando tudo. Céu limpinho, conversa boa e lasanha! Fazia uns mil anos que não comia lasanha, todas as minhas células gritavam de felicidade. De lá, começamos o passeio...

A cidade de Luxemburgo é bem pequena tanto em tamanho quanto em número de habitantes. Isy falou que lá, o fluxo de pessoas é mais ou menos 1 milhão (em todo o país!) de segunda a sexta, mas a população real é algo em torno de 600 mil habitantes. Por ser tão pertinho de França, Alemanha e Bélgica e por causa dos altos salários que o país oferece, muita gente vai pra lá só para trabalhar, mas sem fixar residência. Interessante, né?

Outra coisa que me fascinou em termos de cultura é que todo Luxemburguês fala pelo menos três línguas, que são as oficiais do país: francês, alemão e luxembourguish. Isso até o primeiro ano do ensino médio, quando eles também aprendem inglês (de qualidade) na escola. Eu aqui me virando em 5 com minhas três línguas e meia (porque meu francês me salva mas é absolutamente bizarro), e as criaturas com 17, 18 anos falando quatro línguas obrigatórias. Some a isso os interesses pessoais por idiomas distintos, e no final você tem um país cheio de jovens capazes de falar 5 ou 6 línguas. Genial!

Ah! E uma curiosidade sobre comunicação lá: ao saudar alguém ou começar uma conversa, se deve falar "Moien", que é oi em luxembourgish. O idioma do resto da conversa é determinado por quem responde à saudação. Pode ser luxembourgish, francês ou alemão. Chique, né?

Luxemburgo começou nos meados dos anos 900, com a construção de um castelo. Pouco a pouco foram povoando os arredores, até que a nação se estabeleceu. Por sem bem pequeno e estar localizado entre forças colonizadoras da época, principalmente França e Alemanha, o país teve que fazer muito pra não ser integrado a um dos vizinhos. E apesar de ter perdido parte do território original, eles resistiram! Uhul! Muito disso se deve à fortaleza imbatível que eles construíram, em forma de zigue-zague. É possível caminhar por Luxembourg City pelas ruínas dessa fortaleza. A cidade é bem cheia de subidas e descidas, e tem um vale no meio por onde passa o Rio Alzette. Verde e pontes são o que não faltam por lá. Não vou nem dizer que é lindo, porque as fotos vão comunicar isso melhor do que eu.


Isy e eu andamos muito e torramos no sol que tava fazendo. E é claro que sempre tinha que ter um intervalo pro rango. Adorei descobrir que ela tem alma de gordinha como eu - com a diferença é que eu sou, de fato, e ela continua magra não importa o que aconteça. Mundo cruel! Lá vão as iguarias que degustamos nas andanças...:
Sorvete mexicano frito com coquetel de frutas
Roulle de boeuf - o bom e velho bife à rolê
Torta de maçã
No final do segundo dia, íamos encontrar uns amigos dela no Museu de Arte Moderna, que é onde uma das amigas trabalha. Gente, eu tentei. Eu tentei fazer pose e parecer inspirada, mas alguém me explica o que é isso?


Eu admiro arte, mas pra mim tem que ser 2+2=4. Essas coisas que exigem muita alucinação e transcedência pra entender são difíceis demais pra mim... Ainda assim, valeu! Até porque o museu é lindo, e a construção moderna é integrada às ruínas - e as misturas de contemporâneo e antigo (nesse caso, medieval!) realmente me conquistam facinho.


Íamos encontrar os amigos de Isy às 18h, e acabamos ficando direto do passeio do dia inteiro. Mortas e torradas de sol, resolvemos procurar uma sombra e comer uma Nutella porque ninguém é de ferro. Faltavam ainda 1 hora e meia pro encontro quando nos sentamos, e por um momento lamentamos termos planejado meio mal. Mas o fato é que o tempo voou! Fizemos nosso pique-nique chocólatra no meio das ruínas (e carinhosamente o apelidamos de pique-nique arruinado) e depois iniciamos uma sessão digna de modelos das mais renomadas passarelas: nos maquiamos, mudamos o look dos cabelos (ela que fez o meu! Amei!) e entupimos o cartão de memória da câmera com fotos nossas. Isso regado a muitos risos e conversas sobre todas as coisas do mundo. Não vou e nem quero esquecer do mais incrível pique-nique arruinado entre uma brasileira e uma luxemburguesa que se conheceram em Londres. Sério, essas coisas lindas são verdadeiros presentes de Deus pra mim!

 

Aliás, presente também foi a generosidade de Amy, amiga americana de Isy, que me recebeu na sua casa por uma noite. Fiquei encantada com a hospitalidade da família e ganhei uma nova amizade!


A noite do segundo dia eu passei em um albergue mesmo. Fora o fato de que meus 4 companheiros de quarto dormiam de cueca - e o que estava no beliche exatamente de frente pra minha cama, em cima, era mais lindo do que meu nível de concentração podia suportar -, foi tudo bem. Se acalmem, pai e mãe. Não ataquei ninguém e ninguém me atacou. Albergue é assim mesmo, a gente nunca sabe com quem vai dividir o quarto. Mas se todos forem iguais àquele coleguinha, serei eternamente grata e jamais precisarei fazer exames de vista.

E assim foi Luxemburgo. De verdade, tem cidades que eu vou uma vez e me dou por satisfeita. Paris, por exemplo. Já fui duas vezes, mas uma teria sido suficiente. Berlim é outra, realmente não penso em voltar. Mas Luxemburgo entrou para o seleto hall de lugares pra onde eu espero um dia ir de novo. E na próxima, meu irmão não escapa de ir comigo. Foi ele quem me falou de lá pela primeira vez, afinal. Eu falava dele umas mil vezes por dia, pensando no quanto Filipe iria (vai!) amar Luxemburgo. E se você estiver lendo isso, rato, nem pense em escapar de mim!

E amanhã tem o final da jornada. Amsterdam!


Beijo e até lá ;)