Eu acho que
estou doente. Grave e irreversivelmente doente. Minha condição me
leva a fazer escolhas não muito pensadas, e o pior: nem sequer me
arrepender de minhas decisões impulsivas. Não sei se há algum
remédio ou tratamento pra isso - e se houvesse, eu ia querer a cura?
A questão é que eu não consigo parar de viajar. É grave. Eu fico
babando no mapa da Europa, pensando em como tudo é tão pertinho e
nos países que eu ainda não conheci. Sacrifico as mais diversas
coisas, como o luxo de comer carne frequentemente, pra juntar
qualquer dinheirinho que me permita escapar mais uma vez. Minha conta
bancária não está nada satisfeita, mas mesmo tendo que pensar duas
(mil!) vezes antes de gastar cada centavo, o
vírus-do-viajante-incontrolável me faz muito, muito bem.
Dessa vez,
foi hora de ressuscitar um plano que nasceu em 2008, por influência
do meu irmão Filipe (ele não ia me perdoar se eu não o colocasse
nos créditos): conhecer Benelux, que é um nome que designa o trio
Bélgica, Holanda (o "ne" na sigla é de Netherlands, em
inglês) e Luxemburgo. Desisti e persisti na frente do computador mil
vezes, tentando balancear meu saldo bancário com a vontade enorme de
ir. E é claro que a vontade venceu. Claro! Comprei as passagens uns
3 dias antes de embarcar, e não planejei absolutamente nada em
termos de roteiro. Já falei aqui, mas não custa repetir: roteiros
que nascem espontaneamente, conforme a gente vai conhecendo e
caminhando pelo lugar, são os mais inesquecíveis.
Nos
próximos três posts eu vou contar como foi essa minha sétima
viagem desde que cheguei aqui. Com vocês, Bélgica.
***
Ir de
ônibus para Bruxelas foi a forma mais barata de transporte que eu
encontrei. Foram 8 horas dentro de um busão da Eurolines, com
direito a atravessar o Mar do Norte de balsa entre a Inglaterra e a
França. Fora o desconforto de dividir a balsa com uns 500 grupos de
excursão de adolescentes barulhentos ignorando o fato de que à
exceção deles todos queriam um pouquinho de silêncio naquela
madrugada de domingo, deu tudo certo. Por muita ironia dos meus
neurônios, eu só pensava nas músicas do Titanic. Se batêssemos em
um iceberg, será que era possível não colocar nenhum daqueles
zoeiros no bote salva-vidas? Desculpem, eu sei que o pensamento é
horrível. Mas meu blog é meu lugar de honestidade.
Enfim.
Cheguei em Bruxelas por volta das 7 da manhã, e depois de um rolé
intergaláctico que incluiu estações erradas, trams que não iam até
onde eu precisava, e uma senhora delirando em francês comigo na
parada de ônibus, consegui chegar até a casa dos amigos brasileiros
que me receberam lá. E que recepção! Quase chorei de emoção
comendo tapioca no café da manhã. Bom demais!
Saímos
para bater perna, e a única coisa que eu tinha em mente era conhecer
o Museu de Instrumentos Musicais. No caminho, várias paradas
lindas...
Finalmente
chegamos ao MIM, que era realmente fantástico. Centenas de
instrumentos musicais de várias épocas e culturas do mundo inteiro
estão dispostos nos corredores do museu. A entrada é um escândalo:
2 euros. Se cobrassem 20, eu pagava sorrindo. E o mais interessante é
que no começo da visita cada um recebe um audio-guia com fone de
ouvido, que toca um música de um dos instrumentos dispostos ao nos
aproximarmos dele. É incrível. Pena que os corredores eram pequenos
e a vergonha era grande, porque dá vontade de sair dançando! São 4
andares de história em forma de música. E uma dica por experiência
própria: não vão ao MIM depois de passarem 8 horas em um ônibus.
Seus pés e ânimo precisam estar intactos pra você aproveitar tudo
o que o museu tem pra oferecer.
Leo e
Vanessa queriam me mostrar Bruxelas à noite. Fomos pra
casa, demos uma descansada e por volta das 21h saímos de novo. Só
começou a escurecer por volta das dez, na verdade. E como valeu a
pena esperar pela despedida do sol. A capital belga é ainda mais
bonita com suas luzes artificiais!
Na volta
pra casa, comi meu segundo gaufre (waffle belga) do dia. E eu tenho
certeza que se tiver comida no Paraíso, vai ter gaufre. É um
absurdo de tão delicioso!
O dia
seguinte já era meu último dia na Bélgica. Resolvi começar a
turistada pelo Parlamento da União Europeia. "Chato", você
deve pensar. Enganadíssimo. A história da Europa e da União são
contadas de maneiras super interativas. Com jogos, paineis,
hologramas, guias, maquetes e tudo o que você imaginar. Em um dos
salões, era possível movimentar uns balcões com telas e
auto-falantes por um mapa da Europa que se estendia por todo o chão.
Ao passar pelo nome de uma cidade, um sensor escaneava o local e a
tela exibia um vídeo sobre a atuação da União Europeia ali. Uma
outra sala simula uma reunião parlamentar. Outra conta histórias
cotidianas de europeus de diversas partes do continente. E no final
da visita, podemos registrar nossos votos para a Europa nos próximos
50 anos - e eles ficam expostos na hora! Ir ao Parlamentarium tem um
efeito fortíssimo: você sai amando e admirando mais a Europa do que
quando entrou.
E esse segundo dia acabou
mesmo virando um pedacinho da Europa inteira. Do Parlamento eu fui
pra Mini-Europe, que é um parque com miniaturas de cidades e
monumentos do continente Europeu. Foi bem legal ver em pequena escala
um monte de coisa que eu já vi de perto, e é claro que eu ficava
toda boba cada vez que parava na frente de algum país que eu já
visitei. Mas a Mini-Europe também me fez lembrar o quanto ainda tem
pra ver! As únicas ressalvas sobre ter ido pra lá são: a) a gênia
da lâmpada esqueceu de colocar a bateria na máquina e tava
fotografando pelo celular; b) a Mini-Europe é um lugar pra tirar
foto, basicamente. De preferência, foto sua. Poucas vezes tive
coragem de pedir pra alguém parar e tirar uma minha, então foi meio
chato nesse sentido.
Ah! Do ladinho da ME tem
o Atomium - que é um museu/mirante enorme em forma de átomo.
Bonitão, né?
Apesar da recomendação
pra ir lá, eu queria ver o universo de uma outra forma. Da menor
unidade conhecida, que é o átomo, eu segui para a imensidão das
estrelas visitando o Planetário. Fui umas duas ou três vezes quando
criança em passeios da escola ao Planetário do Rio, e confesso que
quando as luzes apagaram e aquele teto branco de 360 graus se
converteu num céu com incontáveis estrelas, não consegui conter
uma choradinha. Pela beleza em si e pelas muitas lembranças. Não só
da escola, mas das férias que passava com a família toda no
interior, onde à noite o céu ficava escandalosamente lindo.
Enfim... não dá pra tirar foto lá dentro, e eu acabei não tirando
por fora também, mas a lembrança está vivíssima aqui :)
Aterrisei de volta a este
planeta, encontrei meus amigos novamente e fomos pra casa descansar
um pouco. Meu passeio em Bruxelas terminou com chave de ouro,
conversando e tocando violão na beira do lago por volta da meia
noite. Desfecho maravilhoso!
E no outro dia, já era
hora de seguir pra Luxemburgo. Mas essa é uma história pra amanhã!
Beijos e até lá ;)
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Ana vc é uma figura impoluta.... te admiro muito,sei que a grana deve está pouca por isso te aconselho a cantar " valeu a pena huuuuu, valeu a pena..." te amo!!!!
ResponderExcluirkkkk... adorei o "figura impoluta", Lilica. E sim, está valendo a pena DEMAIS!!! Um beijão, também amo você
ExcluirFilha, que passeio maravilhoso foi esse! Me senti visitando Bruxelas com você. Amei cada cantinho, e você ficou linda naquele tamanquinho holandês. Compartilho as lágrimas e lembranças do planetário.Tenho um projeto futuro do qual não abro mão: comer gaufre com você em Bruxelas.
ResponderExcluirTe amo demais.
Oi, Ma! Foi maravilhoso mesmo! Que bom que a senhora passeou comigo.
ExcluirO planetário foi lindo demais... quando formos em Bruxelas juntas vamos lá, e depois saímos pra comer gaufres sem fim!
Te amo!
Lindinha, continuo com inveja de tu, kkkkkkkkkkk.
ResponderExcluirComo eu queria estar no seu lugar e ter essa aula de geografia pessoalmente.
Deus te abençoe.
bjs brasileiros, potiguares e lindinhos.
kkkkkk... fique com inveja não, lindinha!
ExcluirVenha simbora pra cá! :)
Beijos londrinos