sábado, 29 de março de 2014

Dividindo Apartamento: dramas e alegrias

Oi, gente!

Há algum tempinho eu vinha pensando em falar sobre acomodação, mas hoje li uma coisa que me fez coçar na cadeira pra fazer esse post. Ontem eu já estava em umas reflexões profundamente filosóficas sobre como a ignorância é um veneno pra sociedade. Aqui no Nordeste a gente usa muito essa palavra quando quer falar sobre 'brutalidade':
- Fulano fechou a porta do carro com tudo! Ô sujeito ignorante!

Esse tipo de ignorância é chato mesmo, mas tem pior. E não tem nada mais perigoso do que a ignorância que deságua em preconceito: eu acho que é assim, ou eu não gosto à primeira vista ou do que me disseram, então não tenho obrigação de tratar (essa pessoa ou esse tema) com respeito. Não. Está indiscutivelmente errado. Muitos desses pensamentos ignorantes se manifestam quando a gente tem ou está prestes a entrar em contato com outras culturas. E se você está se preparando para viajar ou fazer um intercâmbio como o Ciência sem Fronteiras, sugiro que pare com isso agora! 

Ta, mas por que essa longa introdução? Porque foi a primeira coisa que eu pensei quando li uma ~dica~ por aí. Parafraseando o que a pessoa disse, é algo mais ou menos assim:

Aconselho que você queira ficar em um flat com brasileiros. Se não, você pode acabar morando com asiáticos sujos, europeus que roubam comida e fazem barulho à noite, pessoas do oriente médio que fazem besteiras pelas quais você pode ter que pagar.

Então. Eu não posso mudar o que essa pessoa pensa, mas eu posso tentar ajudar você a fazer diferente e pensar diferente. Olha aí algumas considerações pra quando você for escolher, se é que puder escolher, seu tipo de acomodação e colegas de apartamento no Ciência sem Fronteiras.


A questão da diversidade
Independente da modalidade de intercâmbio da qual você vai participar, se ela for em um país ou região diferentes dos seus, ela também se tornará um intercâmbio cultural. E você não é nem dooooido de deixar a parte do 'cultural' de fora. Dividir apartamento com pessoas de outras nacionalidades pode ser divertido ou não, mas vai com certeza te ensinar muitas coisas, nem que seja ~apenas~ sobre tolerância e respeito. Pessoas naturalmente pensam e agem diferentemente. Se você coloca isso em escala global, o ganho pode ser imenso! Estigmatizar culturas e achar que pessoas deste ou daquele país se comportam desta ou daquela forma pode ser bem perigoso. Eu já caí nessa e quebrei a cara.

Ao longo da minha vida, já morei ou dividi quarto com 4 paquistanesas, uma menina de Bangladesh, quatro americanas, uma norueguesa, uma espanhola, duas suecas, duas argentinas, dois australianos, uma romena, uma moça da Zâmbia. Sobrevivi, estou feliz e fiz amigos incríveis. ENTÃO VOCÊ NÃO VENHA FALAR MAL DE NACIONALIDADES INTEIRAS CONSIDERANDO APENAS AS PESSOAS COM AS QUAIS VOCÊ TEVE CONTATO PORQUE ISSO É FEIO E ME DEIXA IRADA.


O lugar do bom senso
Pessoas podem ser maravilhosas. Mas elas também podem ser sujas, mal-caráter, mentirosas, desrespeitosas, falsas, egoístas. Qualquer pessoa, de qualquer lugar, pode ser assim. Seria muito bom se todos percebessem que, quando o assunto é viver em comunidade ou compartilhar uma casa, algumas coisas são inegociáveis para o bem-estar comum. Vou dar o exemplo da higiene. Em um dos lugares onde tive que dividir quarto por um tempo, uma menina tinha alguns ~probleminhas~ com isso. Ela usava toalhas de banho de outras pessoas, deixava suas calcinhas (i-m-u-n-d-a-s) espalhadas pelo quarto, devolvia roupas emprestadas completamente sujas, usava a mesma meia por uma semana inteira (só isso explica o cheiro que aquelas botas exalavam...) e o pior, a imagem que nunca sairá da minha cabeça: cortava as unhas dos pés e deixava seus restos cima da cama (pra quêeeee? Existe alguma Fada da Unha, como tem a Fada do Dente?). Não importa de onde ela era. Importa que isso não se faz. Se você quer ter práticas assim sozinho, fique à vontade; mas quando se concorda em morar com outras pessoas, a gente precisa fazer esforços que podem significar abrir mão de alguns hábitos.

Em um dos apartamentos onde morei, ninguém tinha problemas com deixar a louça secando em cima da pia. Ou, se tinha, alguém resolveu abstrair, porque nunca discutimos esse assunto. É uma coisa que eu mesma faço. Lavo a louça que você quiser, mas não supoooorto secar, principalmente por causa dos pelinhos do pano de prato. Três outras meninas faziam assim também - guardavam sua louça depois que elas secavam naturalmente. Mas havia duas que sempre preferiam guardar as suas em vez de deixá-las no seu espaço na pia. A prática delas não incomodava a nossa, nem a nossa interferia na delas. Além do politicamente correto ou incorreto, o que vale é não deixar que o seu hábito afete o bem estar do outro. Não importa o quanto seus colegas de apartamento sejam diferentes. Sempre é possível encontrar um meio termo.


Flat bom é você quem faz
Não estou romantizando nada. É verdade. A maneira como você encara as coisas faz toda a diferença, e sua atitude pode interferir muito na qualidade do ambiente onde você está. Se você mora com 5 pessoas que agem de determinada maneira e você discorda completamente, você pode chegar três tipos de conclusão: a) você não consegue mesmo tolerar. É melhor mudar de apartamento porque você não se encaixa com aquele grupo; b) você não gosta da prática das outras pessoas, mas resolve que não faz mal você abrir mão do que você considera ideal em benefício da boa convivência entre todos; c) você não concorda com o que os outros fazem. Eles não prestam, você sim. Você fala mal deles pelas costas e até dá uma 'sabotadinha' aqui ou ali.

Amigos, não escolham a letra c. Por. Favor. Isso é veneno - pra você e pros outros. Não sacrifice a felicidade do seu intercâmbio com esse tipo de picuinha.

Se você escolherem a a, fazer o quê? Acontece mesmo. Em algumas situações eu faria isso. Exemplo: eu não fumo e não consigo tolerar fumaça de cigarro porque, além de não gostar do cheiro, ela me causa alergia e dor de cabeça. Se eu for minoria em um apartamento onde pessoas fumam, não tem escolha pra mim. 

E a b é a experiência que eu tive muitas vezes. Tive algumas colegas de apartamento muito barulhentas. Não por mal, mas porque elas falavam extremamente alto, e elas mesmas disseram que é algo comum na cultura de seus países (tá vendo a diferença? Não inferi nada sobre ninguém...). Elas conversavam com o volume nas alturas, e no início eu ficava meio irritada porque dava pra ouvir até do meu quarto! Conforme o tempo foi passando, descobri que elas eram tão fofas e especiais em outros aspectos que não valeria a pena começar uma briga ou me mudar por isso. Foi uma ótima decisão, porque tive momentos maravilhosos vivendo ali!


Por que não morar com brasileiros
(no caso de um intercâmbio no exterior, como o CsF)
Eu morei com muitos. Aliás, por alguns meses durante o intercâmbio, eu morei só com brasileiros. Nos dávamos muito bem e cozinhávamos coisas juntos - sempre tinha alguma delícia rolando por aí, e uma das meninas fez um 'cantinho do doce' que era uma maravilha! Apesar de todos os momentos lindos e felizes e maravilhosos, quando tive a oportunidade, optei por morar com pessoas de outros países. Por um motivo só: brasileiro fala português.

Não adianta você falar que mesmo morando com brasileiros vocês vão tentar falar a língua do país e tal. É uma ilusão. O tempo que morei com outras pessoas da Terra da Dilma foi, naturalmente, o período em que menos falei inglês. E você não quer perder nenhuma oportunidade de se desenvolver na língua do país onde está, né? Tem coisas, gente, que a gente praticamente só fala em casa. Como você vai aprender a dizer Ei, me empresta sua espátula e seu escorredor de macarrão? ou Este ralo está um horror, vou desentupir hoje e você faz isso da próxima vez em outra língua se não morar com alguém de fora, hein?


E como falar de tudo isso me deixou cheia de saudade dos meus colegas de apartamento e de quarto, aí vão algumas fotos com esses lindos e maravilhosos que vão ficar pra sempre no meu coraçãaaaaao!

Charlotte, que também aturou nossa colega que deixava unhas à solta.
(Suíça, 2008)
Raquel, representando todos os brasileiros. (Suíça, 2010)
Cecilia, minha irmã argentina e parceira na cozinha. (Argentina, 2011)
Mulenga, minha irmã da Mamma África. (Quênia, 2012)
Primeiras colegas de apartamento do CsF.
Amigonas do Paquistão e de Bangladesh! (Inglaterra, 2013)
Minhas lindas e últimas colegas de apartamento na Roehampton.
Brasil, Noruega, EUA e Espanha. A-M-O essas meninas! (Inglaterra, 2013)

Bom, Acomodação é um assunto quase inesgotável! Fiquem à vontade pra mandar suas dúvidas pelo ask.fm ou pela página do blog no Facebook ;)

AAAAH! Ia esquecendo! Façam uma boa ação, por favor, e respondam a uma pesquisa que eu to fazendo pra universidade, pleeeease? É só clicar neste link!

Beijo e até a próxima!

4 comentários:

  1. Oi Ana Luiza
    Adorei seu texto. Concordo c vc. A parte cultural do intercambio eh muito importante e morar c pessoas de diferentes paises faz toda difererenca. Eu morei c chines, japonesa, indiano, americano, italianos, romena, colombiana e uma da Republica tcheca. Cada c seus defeitos e qualidades me ensinaram um pouquinho sobre esse mundo de diversidades que vivemos. Saber respeitar a cultura dos outros eh fundamental. Mas so aqueles q admiram essa diversidade cultural vao ter um legado no final do intercambio.

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  2. Oi :D Adoro seu blog Ana! Não tive muita oportunidade de comentar muito, mas enfim. Eu concordei com tudo o que você falou, mas vc não abordou uma coisa importante: E quando o pessoal usa suas coisas sem você pedir? Tipo, meu namorado tá no UK pelo CSF e diversas vezes já pegaram comida dele... leite FECHADO e tals. Ele ficou muito muito chateado, mas ficou com medo de falar alguma coisa e sofrer represálias. Ele é super fácil de lidar, se dá bem com o pessoal do flat, mas vamos combinar que pegar suas coisas é algo que ninguém atura? Nesses casos eu não consigo pensar em nada a fazer além de ter uma conversa séria com todo o pessoal do flat (já que é impossível descobrir quem pega)... Enfim, aquela coisa das pessoas ruins e de má índole, um saco...

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  3. Oi, Ana Luiza!
    Em primeiro lugar, você sempre fala nos seus vídeos que fala demais. E eu tenho que dizer que... Eu também! Será que é mal de nordestinas? kkk (Sou do Maranhão.)
    Bom, então já peço desculpas antecipadamente para o caso de eu transformar esse comentário em um texto. Vou tentar me controlar (ou não).

    Não lembro como descobri seu blog, comecei lendo alguns posts que me chamavam mais atenção pelo título, mas sua forma de escrita me prendeu de uma forma que eu precisei ler todos os posts. E assim fiz, em menos de uma semana!
    Também adorei seus vídeos, com dicas, relatos etc.
    Estou indo nessa próxima chamada do CSF para a Irlanda. Vou em julho, porque ainda terei um mês de curso de inglês antes das aulas normais. Na verdade, primeiramente eu pensava em escolher a Inglaterra (e até tinha nota de proficiência para isso), mas meu coração escolheu Dublin mesmo.
    Antes mesmo de ir, já não quero voltar. Imagino como foi doída para você a despedida... Nem quero imaginar como será a minha. Você falou em algum dos vídeos que queria arrumar uma forma de a Dilma te deixar lá... Será que eu consigo isso? Bem que eu queria kkk (e, como eu disse, ainda nem fui).
    Espero ter uma experiência maravilhosa como foi a sua, que possa viajar e, principalmente, aprender! Também estou indo para o curso dos meus sonhos (Genética), que aqui não tive a oportunidade de cursar porque ele simplesmente não existe por essas bandas (então optei por Farmácia).

    Sei que sua vida deve estar corrida, mas espero que em breve você arranje mais um tempinho para atualizar o blog, até para contar algumas aventuras que ficaram pendentes.
    Ainda não dei uma olhada no seu ask.fm para ver se você já respondeu algo do tipo por lá, mas acho que um dos seus próximos posts poderia ser sobre a finalização do programa mesmo, como foi a prestação de contas final à CAPES/CNPQ (se teve que comprovar a passagem de retorno, como é a história da comprovação da sua estadia aqui pelo mesmo período que ficou lá etc.). Uma coisa que eu queria saber (mas acho que isso você nem saberia responder) é se, após o meu retorno, eu poderia mudar de faculdade aqui no Brasil, pois estou com alguns problemas na minha (UFMA). Mas creio que isso não seja problema, desde que eu respeite a permanência, não é?

    Bom, era isso. Acho que não me controlei e falei muito mesmo hahaha Um beijo!

    P.S.: Sobre colegas de apartamento, concordo plenamente com você! Acho que dividir com pessoas de outros países é muito melhor que com brasileiros, por ter a oportunidade de conhecer a fundo outras culturas e também para se forçar a usar o inglês. Minha única exigência é que sejam não fumantes.

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