Oi, gente!
Há algum tempinho eu vinha pensando em falar sobre acomodação, mas hoje li uma coisa que me fez coçar na cadeira pra fazer esse post. Ontem eu já estava em umas reflexões profundamente filosóficas sobre como a ignorância é um veneno pra sociedade. Aqui no Nordeste a gente usa muito essa palavra quando quer falar sobre 'brutalidade':
- Fulano fechou a porta do carro com tudo! Ô sujeito ignorante!
Esse tipo de ignorância é chato mesmo, mas tem pior. E não tem nada mais perigoso do que a ignorância que deságua em preconceito: eu acho que é assim, ou eu não gosto à primeira vista ou do que me disseram, então não tenho obrigação de tratar (essa pessoa ou esse tema) com respeito. Não. Está indiscutivelmente errado. Muitos desses pensamentos ignorantes se manifestam quando a gente tem ou está prestes a entrar em contato com outras culturas. E se você está se preparando para viajar ou fazer um intercâmbio como o Ciência sem Fronteiras, sugiro que pare com isso agora!
Ta, mas por que essa longa introdução? Porque foi a primeira coisa que eu pensei quando li uma ~dica~ por aí. Parafraseando o que a pessoa disse, é algo mais ou menos assim:
Aconselho que você queira ficar em um flat com brasileiros. Se não, você pode acabar morando com asiáticos sujos, europeus que roubam comida e fazem barulho à noite, pessoas do oriente médio que fazem besteiras pelas quais você pode ter que pagar.
Então. Eu não posso mudar o que essa pessoa pensa, mas eu posso tentar ajudar você a fazer diferente e pensar diferente. Olha aí algumas considerações pra quando você for escolher, se é que puder escolher, seu tipo de acomodação e colegas de apartamento no Ciência sem Fronteiras.
A questão da diversidade
Independente da modalidade de intercâmbio da qual você vai participar, se ela for em um país ou região diferentes dos seus, ela também se tornará um intercâmbio cultural. E você não é nem dooooido de deixar a parte do 'cultural' de fora. Dividir apartamento com pessoas de outras nacionalidades pode ser divertido ou não, mas vai com certeza te ensinar muitas coisas, nem que seja ~apenas~ sobre tolerância e respeito. Pessoas naturalmente pensam e agem diferentemente. Se você coloca isso em escala global, o ganho pode ser imenso! Estigmatizar culturas e achar que pessoas deste ou daquele país se comportam desta ou daquela forma pode ser bem perigoso. Eu já caí nessa e quebrei a cara.
Ao longo da minha vida, já morei ou dividi quarto com 4 paquistanesas, uma menina de Bangladesh, quatro americanas, uma norueguesa, uma espanhola, duas suecas, duas argentinas, dois australianos, uma romena, uma moça da Zâmbia. Sobrevivi, estou feliz e fiz amigos incríveis. ENTÃO VOCÊ NÃO VENHA FALAR MAL DE NACIONALIDADES INTEIRAS CONSIDERANDO APENAS AS PESSOAS COM AS QUAIS VOCÊ TEVE CONTATO PORQUE ISSO É FEIO E ME DEIXA IRADA.
O lugar do bom senso
Pessoas podem ser maravilhosas. Mas elas também podem ser sujas, mal-caráter, mentirosas, desrespeitosas, falsas, egoístas. Qualquer pessoa, de qualquer lugar, pode ser assim. Seria muito bom se todos percebessem que, quando o assunto é viver em comunidade ou compartilhar uma casa, algumas coisas são inegociáveis para o bem-estar comum. Vou dar o exemplo da higiene. Em um dos lugares onde tive que dividir quarto por um tempo, uma menina tinha alguns ~probleminhas~ com isso. Ela usava toalhas de banho de outras pessoas, deixava suas calcinhas (i-m-u-n-d-a-s) espalhadas pelo quarto, devolvia roupas emprestadas completamente sujas, usava a mesma meia por uma semana inteira (só isso explica o cheiro que aquelas botas exalavam...) e o pior, a imagem que nunca sairá da minha cabeça: cortava as unhas dos pés e deixava seus restos cima da cama (pra quêeeee? Existe alguma Fada da Unha, como tem a Fada do Dente?). Não importa de onde ela era. Importa que isso não se faz. Se você quer ter práticas assim sozinho, fique à vontade; mas quando se concorda em morar com outras pessoas, a gente precisa fazer esforços que podem significar abrir mão de alguns hábitos.
Em um dos apartamentos onde morei, ninguém tinha problemas com deixar a louça secando em cima da pia. Ou, se tinha, alguém resolveu abstrair, porque nunca discutimos esse assunto. É uma coisa que eu mesma faço. Lavo a louça que você quiser, mas não supoooorto secar, principalmente por causa dos pelinhos do pano de prato. Três outras meninas faziam assim também - guardavam sua louça depois que elas secavam naturalmente. Mas havia duas que sempre preferiam guardar as suas em vez de deixá-las no seu espaço na pia. A prática delas não incomodava a nossa, nem a nossa interferia na delas. Além do politicamente correto ou incorreto, o que vale é não deixar que o seu hábito afete o bem estar do outro. Não importa o quanto seus colegas de apartamento sejam diferentes. Sempre é possível encontrar um meio termo.
Flat bom é você quem faz
Não estou romantizando nada. É verdade. A maneira como você encara as coisas faz toda a diferença, e sua atitude pode interferir muito na qualidade do ambiente onde você está. Se você mora com 5 pessoas que agem de determinada maneira e você discorda completamente, você pode chegar três tipos de conclusão: a) você não consegue mesmo tolerar. É melhor mudar de apartamento porque você não se encaixa com aquele grupo; b) você não gosta da prática das outras pessoas, mas resolve que não faz mal você abrir mão do que você considera ideal em benefício da boa convivência entre todos; c) você não concorda com o que os outros fazem. Eles não prestam, você sim. Você fala mal deles pelas costas e até dá uma 'sabotadinha' aqui ou ali.
Amigos, não escolham a letra c. Por. Favor. Isso é veneno - pra você e pros outros. Não sacrifice a felicidade do seu intercâmbio com esse tipo de picuinha.
Se você escolherem a a, fazer o quê? Acontece mesmo. Em algumas situações eu faria isso. Exemplo: eu não fumo e não consigo tolerar fumaça de cigarro porque, além de não gostar do cheiro, ela me causa alergia e dor de cabeça. Se eu for minoria em um apartamento onde pessoas fumam, não tem escolha pra mim.
E a b é a experiência que eu tive muitas vezes. Tive algumas colegas de apartamento muito barulhentas. Não por mal, mas porque elas falavam extremamente alto, e elas mesmas disseram que é algo comum na cultura de seus países (tá vendo a diferença? Não inferi nada sobre ninguém...). Elas conversavam com o volume nas alturas, e no início eu ficava meio irritada porque dava pra ouvir até do meu quarto! Conforme o tempo foi passando, descobri que elas eram tão fofas e especiais em outros aspectos que não valeria a pena começar uma briga ou me mudar por isso. Foi uma ótima decisão, porque tive momentos maravilhosos vivendo ali!
Por que não morar com brasileiros
(no caso de um intercâmbio no exterior, como o CsF)
Eu morei com muitos. Aliás, por alguns meses durante o intercâmbio, eu morei só com brasileiros. Nos dávamos muito bem e cozinhávamos coisas juntos - sempre tinha alguma delícia rolando por aí, e uma das meninas fez um 'cantinho do doce' que era uma maravilha! Apesar de todos os momentos lindos e felizes e maravilhosos, quando tive a oportunidade, optei por morar com pessoas de outros países. Por um motivo só: brasileiro fala português.
Não adianta você falar que mesmo morando com brasileiros vocês vão tentar falar a língua do país e tal. É uma ilusão. O tempo que morei com outras pessoas da Terra da Dilma foi, naturalmente, o período em que menos falei inglês. E você não quer perder nenhuma oportunidade de se desenvolver na língua do país onde está, né? Tem coisas, gente, que a gente praticamente só fala em casa. Como você vai aprender a dizer Ei, me empresta sua espátula e seu escorredor de macarrão? ou Este ralo está um horror, vou desentupir hoje e você faz isso da próxima vez em outra língua se não morar com alguém de fora, hein?
E como falar de tudo isso me deixou cheia de saudade dos meus colegas de apartamento e de quarto, aí vão algumas fotos com esses lindos e maravilhosos que vão ficar pra sempre no meu coraçãaaaaao!
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Charlotte, que também aturou nossa colega que deixava unhas à solta.
(Suíça, 2008) |
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Raquel, representando todos os brasileiros. (Suíça, 2010) |
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Cecilia, minha irmã argentina e parceira na cozinha. (Argentina, 2011) |
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Mulenga, minha irmã da Mamma África. (Quênia, 2012) |
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Primeiras colegas de apartamento do CsF.
Amigonas do Paquistão e de Bangladesh! (Inglaterra, 2013) |
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Minhas lindas e últimas colegas de apartamento na Roehampton.
Brasil, Noruega, EUA e Espanha. A-M-O essas meninas! (Inglaterra, 2013) |
AAAAH! Ia esquecendo! Façam uma boa ação, por favor, e respondam a uma pesquisa que eu to fazendo pra universidade, pleeeease? É só clicar
neste link!
Beijo e até a próxima!