terça-feira, 8 de outubro de 2013

Dinheiro na mão...

...é vendaval.

Paulinho da Viola tem toda a razão. Coisa difícil é controlar dinheiro! Não sou a mestre da economia, mas ultimamente mais e mais pessoas têm me perguntado o que eu faço pra controlar meus gastos. Alguns até pedem informações bem específicas - e por mais que eu esteja completamente à disposição pra dar dicas e valores gerais, não estou mesmo disposta a revelar os dígitos em si. Não me levem a mal, mas é que algumas coisas têm que ficar só pra gente, né? Enfim, vamos ao que interessa.

Comecei a trabalhar aos 14 anos - uma vez por semana apenas, mas pra mim era trabalho! Inicialmente eu recebia o pagamento ao final de cada dia, e depois passei a ganhar por mês. Desse tempo pra cá, me lembro de uma vez em que perdi o prumo. O dinheiro da minha conta ia só diminuindo, e eu não sabia por quê. Não conseguia me lembrar de alguma compra que pudesse ter feito meu dinheiro ir pelo ralo daquele jeito. Comecei a suspeitar de que alguém tivesse clonado o cartão. O que eu ganhava era bem pouquinho, na verdade, mas dinheiro é dinheiro, né? Finalmente, pedi pra papai tirar um extrato detalhado pra mim. Quando ele chegou, colocou o papel em cima da mesa, e disse:

- Eu realmente não tenho ideia do que houve... dá aí uma olhadinha!

E adivinhem só? No extrato, uma lista interminável de compras de casquinhas de sorvete do Bob's. Eu estudava na frente de um shopping, e sempre que podia dava uma escapada pra comer alguma coisa! De R$1,50 em R$1,50, eu empobreci naquele mês. E basicamente, é assim que eu sou mesmo: amarrada pra comprar qualquer coisa, menos comida. Na época do incidente das casquinhas, eu tinha uns 16 anos, e esse foi a primeira e única vez que meu dinheiro "sumiu" e eu não sabia para onde.

Desde que comecei a trabalhar, eu sempre gostei de fazer planejamento financeiro. Se você abrir qualquer caderno meu - seja da matéria que for - vai sempre encontrar uma infinidade de folhinhas e rabiscos sobre o quanto eu tenho, o quando vai pra isso ou praquilo. E isso não foi algo que meus pais me ensinaram (pelo menos não conscientemente). Essa coisa de ter que rabiscar papel pra organizar minhas contas é bem pessoal mesma. E daqui que eu começo as minhas dicas mais práticas.

***

- Regra de três
Eu tenho sempre três orçamentos: um mensal, um diário e um de supermercado. O mensal inclui os gastos fixos, como transporte e telefonia (no meu caso, também o dízimo), e é sempre o primeiro que eu faço. Essa budget raramente varia de mês para mês, e esse é o dinheiro que eu sei que eu preciso ter independente de qualquer coisa!

O orçamento de supermercado é o que eu uso pra fazer compras de produtos mais duráveis, como macarrão, arroz, molhos e temperos, manteiga, óleo, cereais, geleias, etc., produtos de limpeza e higiene pessoal e a primeira compra do mês de carne. São geralmente coisas que eu consigo usar durante um mês inteiro, muitas vezes mais! Essa budget quase nunca passa das £50.

O orçamento diário é quanto eu me permito gastar por dia. Isso, aliás, é algo que eu já fazia há alguns anos no Brasil. Aqui, meu "teto" para mim mesma são £10 por dia. Andar com notas pequenas, de 10 ou 20, ajuda muito a controlar isso! Mas lembrando, esse é o meu limite - isso não significa que todos os dias eu gaste £10. É bem raro isso acontecer, aliás. Vou dar mais detalhes ali embaixo, na parte do Calendário. Esse dinheiro é pra comprar o que eu quiser e os produtos perecíveis também. Por exemplo: ontem fui ao mercado com meu teto do dia comprar apenas verduras, legumes, frutas e sucos. Quando vou comprar carne, é esse dinheiro que uso também (geralmente, 3 bandeijas de cortes de carne/frango, totalizando mais ou menos 800g, custam £10 se compradas juntas em promoção).


- Prioridades no lugar
Dizer isso deveria ser totalmente desnecessário e repetitivo, mas é incrível a quantidade de gente que, por nunca ter morado longe dos pais, não sabe o que são prioridades. Já vi muitas geladeiras lotadas de cerveja mas nada de comida, ou gente viajando pra lá e pra cá e depois sem dinheiro pra se locomover na cidade onde morar. Isso não é ser vida-loka-maneiro-curtição-total. Isso é irresponsabilidade. Seu futuro precisa de você bem de saúde e maduro, então não comprometa o dinheiro que deve ser destinado às necessidades básicas. 


- O tal do DIY
Quando você encontrar aqui no Reino Unido algo sendo vendido com o selo "DYI", prepare-se para colocar a mão na massa. A sigla significa Do it yourself, ou Faça você mesmo. Apesar do termo estar mais ligado a arte e coisas de casa, eu aplico pro máximo de coisas que eu posso. Cozinho pra mim mesma praticamente todas as minhas refeições, me depilo, faço sobrancelha e unhas em casa, quando meu cabelo ta um horror eu compro os produtos e dou um jeito por mim mesma. Lembre-se que tudo que é pronto é mais caro. E tudo que você pode fazer e é vendido como serviço também custa mais.


- Antes ou depois
Parcelar compras é a cara dos brasileiros. Mas na Europa, isso não rola. É tudo numa lapada só, como diriam na minha querida Natal. Portanto, se você quer comprar algo mais caro um pouco e que foge do seu orçamento, há duas possibilidades: juntar até comprar, ou comprar e apertar depois. Isso depende muito da sua capacidade de controlar seu próprio dinheiro. A primeira opção é sempre mais segura, mas também um exercício de ansiedade. Fora que o preço pode mudar, e se for pra mais dá vontade de voltar no tempo e ter comprado antes. A segunda opção é mais arriscada porque exige bastante controle depois, mas garante o preço e não tem o problema da espera que a primeira opção traz. Eu geralmente uso a segunda, mas porque sei que se eu disser a mim mesma que vou precisar viver com cinquenta centavos por dia, eu vou dar um jeito e vai dar certo!


- Calendário
Além dos planejamentos financeiros, eu sempre tenho milhões de calendários. Nenhum comprado. Eu gosto mesmo é de fazer à mão! Fiz esse aqui na contagem regressiva pra vir pra Londres...


...e este é o meu de outubro, que aos poucos vai sendo preenchido:


A ideia do calendário complementa muito a do orçamento diário. Vendo o que eu vou fazer e quando, eu sei se realmente preciso gastar dinheiro em determinados dias - não é sobre ter o dinheiro, mas sobre a necessidade de gastar. Exemplo: na segunda, dia 14, é aniversário de uma amiga minha, e provavelmente sairemos pra comemorar. Já sei que, nos dias 12 e 13, o ideal é que eu não gaste nada. Dessa forma, quando for sair no dia 14, minha budget diária será £30, em vez de £10. 

Ah! E tem uma coisa! Sair não é sinônimo de gastar dinheiro! Pra mim, é crucial evitar estar na rua em horários de refeições, porque a tentação é grande... Tendo seu transporte garantido (...porque isso é prioridade!) é possível sair e se divertir bastante sem gastar absolutamente nada! Londres tem uma infinidade de atrações gratuitas ;)


- Diversificando
Faço minhas compras em 5 supermercados diferentes. Não estou brincando! Vou ao Asda, ao Tesco, ao Sainsbury's, à Pondland e à Iceland caçar itens diversos. Frutas/verduras? Asda. Carnes? Sainsbury's. Laticínios? Tesco. Ovos? Poundland. Comida de emergência (aquela lasanha que salva vidas de vez em quando)? Iceland. Além de adorar ver supermercados diferentes, é incrível o quanto dá pra economizar quando não compra tudo em um lugar só! O que em alguns lugares é mais caro, em outros vale muito mais a pena. [E se você vem pro Reino Unido, uma dica: passe longe sequer da porta do Waitrose. É ridiculamente caro.]


- Regra do dia seguinte
Essa regra eu também tenho seguido há um tempo, e aplicado não só para as finanças. Mas no caso do dinheiro, é o seguinte: sempre que eu quero comprar algo que sai do meu orçamento, eu falo pra mim mesma "eu volto amanhã" e saio da loja/site. Esse tempo me permite processar se eu realmente preciso e se vale a pena comprar o que vi. Na maioria das vezes, no dia seguinte eu simplesmente não volto - e depois nunca me faz falta. Quando a gente vê alguma coisa pela qual se interessa, é difícil ponderar na hora. Por isso o melhor é deixar pra depois.

***

Lendo isso, você deve achar que eu levo uma vida chatíssima. Mas a realidade é que eu nem me dou conta das minhas contas - de tão natural que isso é pra mim. Acho que ter conseguido visitar 15 países em 9 meses prova que o método dá certo, né?

Finalmente, se você é ou vai ser bolsista do programa e ta lendo esse post, quero te encorajar a resistir à tentação de pedir um SOS à família. O dinheiro que o governo dá não é um valor arbitrário. Você não vai passar fome nem frio, e também não vai deixar de sair e se divertir se usar o recurso com consciência. É claro que emergências podem acontecer - um celular roubado, um problema no cartão... - mas ficar na aba de Dilma e não soltar a barra da saia de papai/mamãe não rola. Até porque um dos grandes aprendizados em experiências como o Ciência sem Fronteiras é dar conta da sua vida financeira por si só.

Enfim... o post ta parecendo uma enciclopédia, de tão grande, mas espero que ajude vocês ;)

Um beijo e até a próxima!


***
Já curtiu a página do Na Terra de Beth no Facebook?

20 comentários:

  1. Excelente post!
    Eu tinha feito uma planilha antes de vir pra cá, mas acabei não dando upload nela (duh) e nem tenho usado nenhuma outra. Mas tenho guardado todas as minhas notinhas e vou tentar fazer uma balanço final quando tiver um mês que estou aqui.
    Mas eu uso um dos seus métodos: se eu sei que vou sair no final de semana e vou gastar dinheiro, passo pelo menos 3/4 dias da semana sem gastar nada.
    Geralmente faço compras pesadas no Sainsbury's grande e compras da semana eu faço no menor.
    Poundland também é boa pra comprar chocolate, haha.
    E você já vez alguma compra online (mercado) ?

    Valeu pelo post! Bjs!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Felipe!
      E aí? Seu planejamento tá dando certo??? Espero que sim \o/
      Nunca fiz compra online em mercado, sabia? Achava que não compensava... minhas compras geralmente não ficavam acima daquele mínimo para entrega grátis, e eu achava que fazer em conjunto com alguém seria uma bagunça, hehe :)
      Beijão

      Excluir
  2. Não achei chatíssima, na verdade me identifiquei muito. Quem me conhece diz que sou consumista, a verdade é que eu gasto mesmo, mas tenho meus limites: sei quando posso e quando não e graças a Deus as finanças estão bem administradas. Se todo mundo aprendesse a lidar com dinheiro desde cedo a gente não veria tanta gente endividada por aí... E sinceramente? Acho um saco esse lance de parcelar. Aprendi a comprar à vista, no débito, acho que a gente tem muito mais controle assim, pena que meio resto da população não pense da mesma forma.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Bianca! Pois é... não é por comprar muito ou não, é pela organização mesmo! Mamãe sempre diz, "seu bolso é o seu guia", e quando eu posso muito a tendência é que gaste mais mesmo! Concordo com você sobre a história de parcela. Isso é furada na maioria das vezes...

      Excluir
  3. Ótimo post. Eu também tenho o costume de calcular quanto vou gastar ao dia e ao mês, isso é muuuito útil. Se eu for selecionado no CsF eu acredito que não terei problemas com gerenciamento da bolsa. Mas eu confesso que odeio lidar com dinheiro, fico muito irritado!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Jr! Que bom o post foi útil!
      Boa sorte com as finanças! ;)

      Excluir
  4. Oi Ana parabéns pelo post, muito bom! Eu também estou aprendendo aos poucos a economizar e disser NÃO muitas vezes pra coisinhas que quero comprar. Essa dica de parar pra pensar, disser volto amanhã pra sí mesma vale a pena!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Mônica! Que bom que você gostou do post e da dica - ela sempre funciona pra mim!
      Abração

      Excluir
  5. Parabéns pelo post. Vc mostra que é uma pessoa madura e super controlada financeiramente. Adorei as dicas e vou adotar algumas aqui tb, afinal a Dinamarca é um país muito caro. Se eu não colocar tudo no papel meu dinheiro não vai dar nem para o cheiro. rsrs Obrigada pelas dicas. Abraços!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Bel! Muito obrigada mesmo!
      Espero que as dicas estejam funcionando aí na Dinamarca também. Boa sorte administrando. Dá um trabalhinho mas é recompensador!
      Abraços

      Excluir
  6. Muito bom o seu post. Sou metódica com as contas só qndo viajo, mas no dia-a-dia sempre esqueço de anotar aquele sorvetinho, o café...
    Ana, oq vc acha desse site, já conhecias ele?
    http://www.mysupermarket.co.uk/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, olá! Pois é... o dia-a-dia é que faz a diferença. Eu escorrego nessas coisas muitas vezes também. Eu não conhecia esse site, mas a proposta pareceu super legal! Obrigada pela dica

      Excluir
  7. Boas dicas que devem ser seguidas pro resto da vida, principalmente qdo estiver na posição de chefe de família e na paternidade/maternidade. É claro q outras dicas serão bem vindas qdo chegar este tempo, mas o planejamento financeiro salva muito a nossa pele e, principalmente, o bolso e o coração. Hehehe.
    Deus continue abençoando vc, Ana! Abs!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oooi! É verdade, pretendo usar as dicas no futuro sim, e acho que ir me acostumando a controlar as finanças é um ótimo exercício pro futuro - e um alívio no presente!
      Deu te abençoe também! Abraços

      Excluir
  8. Mas que orgulho de você, Xuxa! Sempre soube da sua organização, mas não sabia que ela era assim tão organizada! :S

    Quando crescer, quero ser igual a você! Tirando a parte dos mil supermercados, tá?
    #oNordestaoMeBasta ;)

    Te amo sempre.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Xuzinhaaaa, é sério? Ta orgulhosa? *______________*
      Ah, se precisar eu vou nos mil supermercados pro você, pode deixar. O Nordestão às vezes tem umas facadinhas, viu? Sua ryca!
      Te amo demais.

      Excluir
  9. Boa Tarde Ana, sou do Brasil e passei pro Ciência sem fronteiras. Vou ficar 1 ano na Irlanda do Norte. Todo esse período de inscrições e agora mesmo com o resultado oficial, não paro de ler blogs a respeito do assunto. Li o teu e consegui muitas informações que me ajudaram bastante (afinal tu já está no intercâmbio) mas eu ainda tenho dúvidas com relação ao dinheiro que os alunos ganham. Como é feito esse depósito no famoso "DilmaCard"?? O dinheiro é depositado sempre na minha conta do Brasil e eu tenho que converter para libra e eviar para o país que estarei? (dessa forma acabo perdendo por causa das cotações né)...Já vi mt gnt aconselhando a fazer uma conta num banco local do país de destino. O que você fez??
    Grata desde já, Rafaela Meneses

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Rafaela! Tudo bem?
      Então, acho que a esse ponto você já deve ter descoberto como funciona o DilmaCard, mas vamos lá: na verdade, ele não é só um cartão. É uma conta também! E o dinheiro que você recebe e depositado diretamente nessa conta, a cada três meses, sem que você precise converter nada. Acho meio perda de tempo e de dinheiro abrir conta em banco. O cartão de tia Dilma funciona pra tudo! Espero que esteja dando certo pra você.
      Beijos!

      Excluir